O rapaz das aves lembrou-se então de saberes antigos e talvez um pouco enjeitados pela vida, mas que lhe vinham de herança juntamente com meia dúzia de courelas. Crescera no meio dos cheiros do mosto e do azeite e sofrera a brotoeja das favas. Aprendera a reconhecer os pássaros pelo cantar e das plantas sabia os códigos de leitura da forma da copa, da nervura da folha, dos veios da madeira e, naturalmente, das sementes.
O rapaz cujo olhar voava com as aves, pousou os olhos no mar e as ondas eram já as do vento nos trigais da sua meninice com o marulhar das agulhas dos pinheiros quando a nortada esfriava o fim de tarde.
Sabes, disse para a rapariga, não sei se sou capaz... O sorriso dela baixou suavemente as asas como que a pontuar a espera serena do olhar.
As sementes encerram demasiados segredos e há coisas que não cheguei a aprender. Deixei-as a meio e fui atrás de outros saberes, continuou o rapaz.
O sorriso da rapariga voltou a erguer as pontas e parecia levá-la num voo a sítios distantes e desconhecidos para o rapaz. Por momentos o rapaz teve a sensação que dela se exalava um cheiro a terra vermelha dos lugares da sua infância.
Preciso que me contes a história de cada semente, disse o rapaz.
A rapariga mudou de posição e sentou-se como só as sereias sabem fazer. Alisou a areia com a mão e começou a desenhar umas linhas que depois se encontravam e voltavam a separar. Era um mapa do mundo. Não como habitualmente o vemos com os continentes separados dos oceanos, mas como espaços de vida que atravessam terra e mar, explicou.