26 de outubro de 2004

Ele (ou Lê)... de Ler na Areia

“Disse que seu livro se chamava o Livro de Areia, porque nem o livro nem a areia tem princípio ou fim.”
(Jorge Luís Borges)

Parei um momento a pensar quantas páginas faltarão para o infinito...
Deve ser mais ou menos o tamanho da liberdade que desejo que caiba dentro de mim. E dou comigo a enunciar um improvável teorema enfeitado de corolários míticos: Aprender o infinito é condição sine qua non para liberdade.
Recito de cor alguns corolários mais coloridos:
(um) O inverso é sempre e infinitamente verdadeiro
(outro) Liberdade que vai à frente é a que abre as primeiras portas, sendo que elas são infinitas
(outro mais) A liberdade é infinitamente maior que a maior opressão
(e este) A memória é limitada e não se lembra de todos.

«Mas a meio caminho voltou para trás, direita ao mar. Paulo ficou de pé no areal, a vê-la correr: primeiro chapinhando na escuma rasa e depois contra as ondas, às arrancadas, saltando e sacudindo os braços, como se o corpo, toda ela, risse.
Uma vaga mais forte desfez-se ao correr da praia, cobriu na areia os sinais das aves marinhas, arrastou
alforrecas abandonadas pela maré. Eram muitas, tantas como Paulo não vira até então, espapaçadas e sem vida ao longo do areal. O vento áspero curtira-lhes os corpos, passara sobre elas, carregado de areia e de salitre, varrendo a costa contra as dunas, sem deixar por ali vestígios de pegada ou restos de alga seca que lhe resistissem.»
(José Cardoso Pires)

As escritas são efémeras. Apagam-se depois de alguém as ler.
E assim se justifica o ofício de contador.

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