11 de setembro de 2011

Arte no passeio ribeirinho

Ali, junto a um dos primeiros braços da Ria Formosa, no tão proclamado e tão abandonado "Parque Ribeirinho" nasceram há tempos uns pilares de cimento com uma disposição ordenada, mas não de forma a sugerir algo inacabado. Já tinha imaginado que isto seria uma espécie de stonehenge pós-moderno ou até mesmo um objecto escultórico que um certo presidente teria mandado erigir em honra dos seus amigos construtores civis. Podia até, enigmaticamente, chamar-se IMItação. Mas não. Nenhuma placa de broze assinalava o facto e única actividade que por ali vi foram uns acampamentos de ciganos e a utilização dos pilares para pender os animais.



Eu passo por ali de bicicleta (a ecovia algarviana, está por ali assinalada) e ontem deparei-me com estas hemi-figuras pintadas e que se juntam à medida que nos deslocamos.


Uma criação muito interessante que as fotos não traduzem muito bem.



Não encontrei qualquer assinatura, mas este tipo de pintura não me é estranho. Julgo reconhecer a marca de um artista plástico farense e vou procurar confirmar.




Há agora mais um motivo para os farenses se deslocarem a este sítio e dar-lhe vida. Pode ser que isso faça com que os espaço se torne alvo de maiores cuidados.








As estórias que me contas dos livros que lês

Do tamanho da mão de uma criança, estriada de verde metálico, de negro brilhante, às vezes também de vermelho alaranjado, com, na traseira, um debrum branco, a urânia pode ser observada em diversas regiões do globo, do Pacífico a Madagáscar, da Índia à Amazónia. A espécie que prendeu mais particularmente a minha atenção é aquela que se conhece sob a designação de Urania ripheus, e que se encontra nomeadamente na América tropical.
Os sábios que se interessam por ela puderam observar um fenómeno surpreendente e espectacular: em certos dias do ano, essas urânias reúnem–se às dezenas de milhares nos locais onde a floresta confina com o oceano, depois levantam voo para a frente, percorrendo centenas de milhas marítimas, até que, não encontrando ilha para pousar, caem esgotadas e afogam–se.
Algumas fêmeas depositam os seus ovos na floresta antes da migração, o que assegura a sobrevivência da espécie; mas a maior parte levantam voo ainda grávidas, arrastando a sua progenitura no seu suicídio colectivo.
(...) Elas foram objecto de uma monografia que as circunstâncias não deram oportunidade de publicar e que se encontra ainda nas minhas gavetas. Exprimo aí a opinião de que o comportamento das urânias não resulta de uma perda do instinto de conservação, mas, pelo contrário, da sobrevivência de um reflexo ancestral que conduz ainda esses animalejos para um lugar onde se reproduziam outrora; talvez uma ilha que tivesse desaparecido; assim, o seu suicídio aparente, seria um acto involuntário causado por uma má adaptação do instinto de sobrevivência a realidades novas; estas ideias tinham seduzido os meus estudantes, mas certos colegas mostraram–se cépticos quanto à formulação.




Amin Maalouf


O século primeiro depois de Beatriz (1992)



Aqui fica transcrita a odisseia suicida das urânias. O livro completo está disponível online.