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Os santos mercados já condenam Portugal ao «nível lixo», uma espécie de inferno da economia global para aonde se atiram os pecadores. Nada que sobressalte (esta aprendi com o Cavaco da presidência, mas acho que o dono do Stand Cavaco - de automóveis usados e seminovos- diria o mesmo), nada que sobressalte o nosso povo, dizia eu, que gostando tanto de calor ainda é capaz de dizer com um tal alentejano que indo parar ao inferno e tentando o diabo castigá-lo com o calor no máximo, "compadre, com a 'calma' que por aqui vai, que fará em Serpa?..."
Ficamos també hoje a saber que, de acordo com uma sondagem, os eleitores dariam uma maioria absoluta ao PSD, ou ao PSD e CDS e que ainda assim o PS se aguentaria num score aceitável, tendo em conta os acontecimentos, o que significa que à esquerda a crise pouco mexe para além de umas décimas.
É, pois, o lixo em todo o seu esplendor. O lixo, luxo que nem todos se podem gabar de juntar num mesmo palco. O lixo-presidente. Cavaco, o grande mandador em silêncio deste baile de roda capaz de voltar a juntar a esquerda e a direita. O lixo-governo que afogado em dificuldades e acossado em várias frentes não soube gerir a situação e avança de peito aberto contra as espadas estendidas. O lixo-oposição-que-quer-ser-governo que não tem alternativa e não pode fazer outra coisa que não pior que o PEC IV, determinado pela UE que por sua vez também está entalada pelo sistema global da finança. O lixo-esquerda-PC-e-BE que (depois de uma moção de censura que podia ter obrigado o PSD a votar contra e não o fez, deixando-o no conforto da abstenção) parece querer ajudar a abrir alas para o noddy Passos Coelho e toda a direita no poder (para fazer o que estes já faziam, é certo) e dar uma ajuda ao velho desejo desta direita bacoca: um presidente (blheck...), uma maioria (pfff...), e um governo (cof). Lindo! E o sol brilhará pra todos nós e a esquerda ficará mais esquerda, e assim, e tal...
Também me interrogo, se este povo-lixo merecerá melhor. E hesito muito entre o alistar-me militantemente num partido de esquerda e ajudar na discussão dos melhores caminhos (correndo naturalmente com as ideias que que o têm conduzido) e o sentar-me na plateia da indiferença a assistir à desgraça. Só que o preço do bilhete para este espectáculo sai carríssimo e é grande a probabilidade de o teatro ruir e, seguramente, os que estão na geral e na plateia ficarem esmagados pelo balcão e pelos camarotes onde se sentam os privilegiados que se safam sempre.