O meu ouvido, musical e muito relativo, apreende discursos como fraseados sonoros, melodias, batidas rítmicas e, frequentemente ruídos (ia a escrever sem qualquer classificação musical, mas pensando melhor, não é bem assim).
Dum ponto de vista meramente convencional, a maior parte dos discursos que nos entram em casa em prime time, não passa de ruído. Mas, tal como na música, tanto o ruído como o silêncio podem servir intenções estéticas ou buscas transpoiéticas (esta até a mim me surpreendeu). O ruído de um tipo da bola que fala mal e nada tem para dizer vende uns minutos de publicidade num painel animado estrategicamente colocado por detrás. O Marcelo vende-se a si próprio nos gafanhotos que debita sobre tudo incluindo o partido de que já foi presidente e quer e não quer voltar a ser. A Ferreira Leite fica em silêncio cageano alternando com a aleatoriedade stockhauseniana. O Cristiano Ronaldo ganha uma bola de ouro enquanto que o Benfica tem que ganhar oito a zero a não sei quem para não sei o quê. Acontece-me às vezes, surpreender-me a trautear um comentário do Cavaco ou do PauloBento. Uma música pimba que nos fica no ouvido. Enfim.
Hoje queria falar do Modelo. A cacafonia dos últimos tempos faz-me lembrar um exercício antigo que consistia em inventar um relato de futebol numa suposta língua chinesa em que as palavras bola e golo se diziam como em português. É assim que me soam quer a Grande Orchestra Syndical quer a Camerata Ministerium:
只口喝的乌鸦在路边发现 modelo了一个装了半瓶水的长颈瓶。modelo 地直立在干涸的泥土里 modelo,而且瓶口 modelo 比较细而且很深,modelo 乌鸦的嘴巴根本够不着。modelo 怎么办? modelo 聪明的乌鸦用嘴巴将路边的一块 modelo 块小石头放到了瓶子里。 不一会的工夫,石头已经填满了瓶子 modelo,瓶子里的水位升高了。最后乌鸦终于喝到 popota 了tony carreira 甜美的瓶 中水。neste natal 但瓶子牢牢
Há coisas incontornáveis. A invasão e a generalização de uma cultura de gestão por objectivos e a introdução de sistemas de avaliação nos diferentes níveis das organisações parece ser uma realidade donde não há fuga possível. Se calhar, o melhor mesmo é aproveitar algumas coisas boas que isso tem e procurar melhorar aquelas que são verdadeiras patetices irrealistas e que só estorvam o cumprimento da missão de um organismo.
A mobilização dos professores é admirável a vários títulos. Fez o que ninguém fez no resto da Administração Pública que já se entretém com o SIADAP há quase quatro anos. A princípio percebia-se o que queriam numa melodia mais ou menos cantabile e entendia-se a sua resistência a um processo que se desejava ver simplificado. Da parte do ministério, as vozes do que parecia um canto firme entram em sucessivo glissando e assiste-se a uma bemolização das ideias. A frente sindical empolga-se num crescendo até ao tutti finale no dia 3 de Dezembro. Só que, em sucessivas modulações, já se perdeu o tema em ambas as formações e o público já fica incomodado com a algazarra e daqui a pouco começa a patear.
Já se comenta entre o público que é preciso outro arranjo musical, outra harmonização.
O ministério sai mal, pela porta dos artistas e os professores, embora saindo pela porta principal autoglorificando-se como vêm cantando os seus hinos, não escutam as vozes que já lhes dizem que eles não querem é avaliação nenhuma - nem a do modelo nem a do pingo doce.
Como para o ano vai haver, para o próximo natal devemos ter novo concerto, desta vez com a Leopoldina e o Quim Barreiros.
(Já se diz por aí nas coxias laterais que o maestro vai substituir o outro na CGTP.)
5 de dezembro de 2008
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