Hoje visto-me de comentador desportivo. Desculpem-me a presunção com que o faço e assim me apresento, já que pouco competente sou na grande área júridica ou no meio campo da corrupção desportiva ou na defesa do tráfico de influências. Mas se começar por dizer que estou de consciência tranquila, penso garantir já uns créditos no assunto. Afinal, esta coisa da bola não sendo propriamente uma disciplina fácil e linear também não é um bicho de sete cabeças. É um assunto bem capaz de reunir na mesma discussão um arrumador de automóveis, um juíz, um cientista e vários deputados de todos os partidos da extrema esquerda à extrema esquerda, incluindo os ponta de lança.
E assim sendo, já lá vão uma data de linhas e ainda não disse nada, passemos à análise dos factos mais recentes. A selecção nacional foi primeiro para Viseu e não sei se passou por Fátima. Se não passou devia porque se essa santa foi capaz de livrar Portugal do Prestige mais facilmente soprará uma bola para dentro da baliza do inimigo, digo, adversário. E pelo que tenho observado a ajuda divina é tão importante como as tácticas. Em Viseu o povo saiu à rua e o Tony Carreira também. É o destino, dizem.
E o destino é a Suiça com bandeiras portuguesas nas janelas e sardinhas assadas com minis da Sagres. Os nosssos emigrantes que andam lá fora a ganhar a vida estão de alma e coração com a selecção. E com o Tony Carreira também.
Mas a bola não é só isto, ou não é sobretudo isto. Há um capítulo dourado e um outro final que pertencem a uma modalidade designada justiça desportiva. Há quem não entenda este
aparteid judicial, mas isso é porque não vêem os telejornais. As televisões e os rádios gastam metade do seu tempo a tentar explicar estas coisas aos portugueses, todos os dias e mesmo assim há quem não entenda. Eu confesso que também resistia, mas assumo que era por puro preconceito. Agora entendo melhor porque tem que haver uma justiça desportiva, uma fiscalidade desportiva, uma ética desportiva e sobretudo uma consciência tranquila desportiva. Esta não sei muito bem o que é, mas se tanto o Valentim como Pinto como o Madaíl estão sempre a referi-la, é porque existe e é importante.
Entretanto, e seguramente para desviar as atenções do povo que está mobilizado para esta grande missão de apoiar a selecção, fazem uma manifestação contra as políticas laborais do governo que alguns teimam em afirmar que juntou quase um quarto de milhão de trabalhadores quando todos sabemos que pouco passou dos duzentos mil. Enfim, as confusões do costume.
E depois ainda são capazes de dizer que a bola é que dá discussões sem sentido.
Parece que a entrevista do Pinto da Costa teve mais audiência que a do Manel Alegre.
(Faz mais poemas ao Figo, faz!)