Sua excelência adora roteiros e bons exemplos e novas tecnologias e acho que lhe fica muito bem. Assim, sua excelência de vez em quando sai em roteiro à volta de um tema e procura chamar a atenção para os bons exemplos e desta vez parece que os bons exemplos vinham de uma escola da Caparica, com a qual sua excelência parece que comunicava por videoconferência. Não tenho a certeza se assim era; ouvi na rádio enquanto conduzia e não encontrei outras referências ao assunto. E ouvia-se sua excelência falando com um aluno: Então já foste à praia? disparou com um sorriso pendurado ao canto da boca como se fosse uma beata apagada. Perante tão interessante pergunta, o aluno apenas consegiu responder: Já... E o presidente ainda insiste com relevantes questões que procuravam certamente indagar se o aluno tinha desenvolvido poder de observação se detinha o conhecimento aferido, se sabia se o mar tinha muitas ondas e, o que seria revelador de um elevado sentido de excelência, quantas. Mas isso já não consegui ouvir porque a voz off do jornalista já anunciava a chegada do João que passa então a ouvir-se: Eu sou o João, disse sem que a voz lhe doesse, e queria saber o que pode fazer pelo nosso país. Sua excelência mastiga um curto silêncio, apenas o tempo de passar o sorriso para o outro canto da boca e trauteia a resposta nitidamente semitonado: Bom... isso é.... uma pergunta a que é muuuuuuuuuito (assim mesmo) difícil responder. Convenhamos que a pergunta não era fácil e, tratando-se de sua excelência até poderia justificar que se invocasse o «direito» de reserva, mas c'os diabos! O moço até nem estava a filmar com o telemóvel, nem disse ó velho, nem meu, nem cota. Nem perguntou porque é que ele tanto se agachou ao Jardim na Madeira, porque é que não tem opinião sobre coisa nenhuma, porque quando é confrontado fala na terceira pessoa como se fosse o Jardel, enfim... Talvez o rapaz devesse apenas perguntar se a amêndoa promete este ano em Boliqueime. Se está a pensar investir no biocombustível à base de alfarroba, mas parece que este jovem não é muito virado para a economia. Está apenas preocupado com o estado do país e com o futuro.
Esta história deixou-me a pensar no contributo que as crianças podiam dar à política. Em vez de jornalistas e grandentrevisteiros e mesaredondistas profissionais seria bom era pôr apenas as crianças a fazer perguntas aos que se querem fazer eleger. As crianças não votam, mas nada os impede de fazer perguntas.
Mas sua excelência tem outro caso com jovens adolescentes de uma escola, quando era primeiro ministro. Vi-a a reportagem recuperada por Júlio Machado Vaz, acho que na primeira série do Sexo dos Anjos, a que passava a horas decentes. Sua excelência visita uma escola que incluia contacto com os alunos. Nenhum político resiste à moldura das crianças que tão bem fica na televisão. Duas alunas entrevistam sua excelência, uma outra regista em vídeo. Senhor primeiro ministro, com tantos afazeres que dá governar o país, ainda tem tempo para o amor? Aqui ainda foi pior do que com o João. Sua excelência tem um esgar meio sorridente, os olhos procuram qualquer referência na memória. O amor..., a gente quase o ouve a pensar, eu dei isso... mas em que ano? em que manual? E a resposta lá vem. Bom... sabem?... Não são agora duas fedelhas, com perguntas manhosas, muito provavelmente industriadas pelos pais que atrapalharão sua excelência que a esta hora já nem sabe muito bem o que lhe perguntaram. Ainda me acho um homem jovem e, de certa forma atraente para as mulheres... E o resto foram sorrisos e subentendidos, como quem diz: Se acham que eu estou arrumado do ponto de vista sexual estão muito enganadas; vão lá dizer aos vossos pais que aqui o je ainda se sente muito homem e capaz de romper meias solas ou de pintar a manta como quem decora o valor do PIB. O que é que julgam?
Isto é que são bons exemplos que as TIC nos permitem ver. No tempo do Tomás e da dona Xtrudes os exemplos só eram conhecidos através de anedotas contadas baixinho.