4 de novembro de 2008

Sonhâmbulo


Depois de te ler lembrei-me de ter tido um sonho semelhante. Nele, interrogava-me se um país tão poderoso, capaz de armar uma guerra em qualquer parte do mundo, capaz de exportar para todo o planeta uma cultura de violência, de consumo exacerbado, mas também algum do bom cinema e muita da grande música jazz, não seria também capaz de promover a paz (de forma pacífica, entenda-se) no mundo e, usando da mesma ingerência com que derruba governos democraticamente eleitos e provoca golpes de estado, ajudar a combater o estado crónico de fome, sofrimento e doença. E tenho andado com esse sonho assim de um lado para o outro a desdobrá-lo e a tentar perceber nos seus interstícios se isso depende da eleição de um homem, ou daquele homem que nos parece simpático e autenticamente bem intencionado.

Eu não sou americano e não consigo saber se Obama é melhor que McCain. E não sei se, quando fora dos EUA, toda a gente votaria em Obama o faz porque ele é o melhor para o mundo ou para os Estados Unidos da América.

Se eu vivesse lá provavelmente não escolheria nenhum. Para os meus padrões, representam ambos a direita conservadora, por mais que se pintem de mudança progressista.

Para um hipotético (ou talvez nem tanto) governo do mundo, preferiria à partida que não fosse americano (preconceito meu certamente derivado de um antiamericanismo primário).

Mas voltemos a Obama (que a esta hora já deve saber quantos lugares tem no colégio eleitoral) e à esperança que nos faz entrar em casa à hora dos telejornais. Não me parece nada que ele tenha esse sonho. Acho que essa parte funciona apenas para nós, europeus. Para a maior parte dos americanos que votam nele o que funciona é o american dream: um indivíduo que vem de baixo, sobe a pulso e chega ao topo. Por mim não acho nada mal e aplaudo quem consegue demonstrar que é possível tornar esse sonho realidade, através do trabalho, do estudo, da persistência e não porque (à portuguesa) lhe sai o euromilhões ou tem relações privilegiadas com o poder e isso lhe abre as portas para negócios fabulosos com o estado (o que é mais ou menos a mesma coisa, mas aqui com maior probabilidade de ganhar).
Let´s call the whole thing off.

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