15 de junho de 2008

Os flamingos

Fazer o caminho das salinas é sempre uma viagem muito maior que a distância percorrida. No exercício solitário e lento do pedalar também se sonha. E hoje sonhava assim com aquela bicicleta era viajeira e ia assim pelo mundo e transportava histórias de uns povos para os outros.
Ia nesta fantasia montado quando avisto o bando de flamingos. Tive sorte porque era hora de almoço e os bichos estavam muito entretidos com a refeição e deixaram-me aproximar mais do que é costume. Andam por ali outros pássaros que têm por missão dar o alarme quando alguém ou algo potencialmente perigoso. Desta vez bem piaram, mas os flamingos apenas levantaram a cabeça e mudaram de direcção ficando todos alinhados para o lado donde o vento sopra.
O que é surpreendente é a sincronia dos seus movimentos. Viram-se todos ao mesmo tempo sem sequer olharem uns para os outros numa coreografia ensaiada ao longo de muitos milénios. É isto que sigo conversando com a bicicleta. Até chegarmos à estrada ainda há tempo para discorrer sobre o nome desta ave que faz lembrar fogo. Chama. Flamingo é um pássaro em chamas. Já ouvi dizer que aquelas cores flamejantes resultam do limpar dos bicos sujos de marisco nas penas brancas, mas a bicicleta teima que não e afirma que aquilo é fogo mesmo. É o fogo do acasalamento.
Enfim. É melhor não a contrariar.

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