25 de fevereiro de 2008

Tanto mar para escrever


Dizem que na Preguiça não cai uma gota de chuva vai para dois anos. Por toda a ilha, os leitos das ribeiras são habitados por pedras secas e trilhos de cabras. As ubíquas acácias dançam dengosas, braços estendidos como quem tenta agarrar o vento. Os penedos parecem ecoar permanentemente o balanço de uma morna. Quente. E triste quanto baste.
Eu que já ouvi muita música, escutei-a, julgo que pela primeira vez, trauteada baixinho pelo Carlos, na Ribeira Prata, a caminho da "Rotcha 'Scribida". Subíamos por um trilho ao lado de um trapiche, onde também se destilava grogue. Voltei a ouvi-la dois dias depois na tocatina da 'Stancha. Continua-me no ouvido.
Fui procurá-la aqui pelos tubos das redes e saiu-me muito melhor que a encomenda. São quase sete minutos de puro sonho, a maior parte deles capazes de provocar chuva no Monte Gordo e Caleijão.

Vale a pena ouvir esta morna. Cesária e Paulino Vieira em Paris, 1995.

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