12 de novembro de 2009

Em Bragança não há gaivotas

Por acaso jantava uma alheira. A televisão ligada já tinha mostrado todas as faces mais ou menos ocultas dos corruptos aos magistrados e futeboleiros. Parece que há sempre algo oculto nas faces das notícias, mas às vezes também se descobrem faces iluminadas na sua simplicidade.
Na SIC, passava um conjunto de reportagens chamado "Histórias com gente dentro". Aí cruzavam-se vidas de pessoas simples como os turistas séniores que vão nas excursões por animadas por pezinhos de dança, ou como a mulher do carroussel de feira a quem já só faltava ir à lua. Quase não tinha ido à escola, mas tinha aprendido o suficiente para a sua vida de feiras. E também uma pastora transmontana que tratava as suas ovelhas pelo nome, Boneca, Galinha, Sineta... e elas vinham lamber-lhe as mãos como se fosse um cumprimento habitual. Esta pastora tem 29 anos e nunca tinha visto o mar, nem andado de comboio ou ido a Lisboa. O programa proporcionou-lhe essa viagem. No seu encontro com o mar, que só conhecia pela televisão, às tantas pergunta Aquilo é uma gaivota? Em Bragança não há gaivotas...
Pois, parece que não. Há águias e sonhos.


Fui à SIC Online e trago de lá um link para outras estórias de saltar muros. Se calhar vai dar à rua dos 90.

1 comentário:

india disse...

Essa foi uma reportagem que também mexeu muito comigo, por vários motivos. Dizia ela no fim que gostava de ir para Lisboa e quem sabe, a vida dá tantas voltas...O que eu sei é que eu e a menina pastora temos uma diferença de idades de dois anos. Eu também sou de Bragança, mas já vi o mar e conheço gaivotas, estudei no Porto vários anos e fui a Lisboa várias vezes, ou nem terão sido assim tantas. Espantosa a desigualdade deste país, espantoso em pleno século XXI não termos todos as mesmas oportunidades... Foi só um desafo.