9 de maio de 2007

Balada dos dias úteis


... não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho
Alberto Caeiro - Guardador de rebanhos
Destreinei-me de guardar pensamentos talvez por os achar demasiado rebeldes. Deixei-os tresmalhar por campos e colinas e muitas vezes por searas alheias. Pensar não dá trabalho. Não. O que cansa e incomoda é guardar os pensamentos como quem gere um rebanho.
Eu bem gostaria às vezes de juntar todas as coisas que penso e sinto e mais aquelas que nem sei se são uma coisa e outra. E gostaria também de melhorar esta relação tormentosa com a memória que baralha as estórias, ata-as umas às outras vai por aí a correr como os papagaios de papel.
Se ao menos ouvisses os diálogos que mantenho sozinho...
Um dia destes vou contigo para o campo e convoco os pássaros e as flores de todos os matizes para contar-te do meu crescer. E vou até lembrar-me de nomes esquisitos de seres que povoaram a minha infância.
Mas agora o que eu quero mesmo é ir contigo para o mar. E dizer-te, como Hans, para vires comigo para o mar mesmo sabendo que haverá temporais e tsunamis.
Já sei que me dirás sempre: antes isso que marés mortas.

2 comentários:

CCF disse...

Que papoila rebelde e linda é esta? Como foi nascer aqui? Talvez alguma semente perdida que escolheu a tua objectiva para tornar úteis(ou inúteis) os teus dias.
~CC~

Anónimo disse...

e vim assim parar às gaivotas contadas que não se contam porque de segredos vivem e com elas se libertam e voam... e vim assim, como quem teme e não teme, experimentar o rolar da lágrima, roldana comovida nas rendas do meu mar... "à espera, à espera...", já alguém cantava , cantante de cantares e recantos... vi-me ali,naquela balada... e isto e sempre por só vermos o que quisermos de facto ver no nosso acontecer.... e disse as palavras da balada em alta voz e ouvi a voz do contador...

Camille