31 de maio de 2006

Canto

EPÍGRAFE
De palavras não sei. Apenas tento
desvendar o seu lento movimento
quando passam ao longo do que invento
como pre-feitos blocos de cimento.


De palavras não sei. Apenas quero
retomar-lhes o peso a consistência
e com elas erguer a fogo e ferro
um palácio de força e resistência.


De palavras não sei. Por isso canto
em cada uma apenas outro tanto
do que sinto por dentro quando as digo.


Palavra que me lavra. Alfaia escrava.
De mim próprio matéria bruta e brava
- expressão da multidão que está comigo.


José Carlos Ary dos Santos


Hoje acordei a cantar Um canto redondo e sem palavras Apenas um silêncio sábio no compasso da distância onde todas as aproximações são possíveis
O mundo espera E há uma palavra madrugada salvadora atada e cega na garganta

1 comentário:

Anónimo disse...

Doce Contador de Gaivotas, andas muito a esquecer-te do sonho e do amor nos teus ultimos escritos...
Fazes muito bem, na critica destes governantes, estás mais com os pés no chão que eu, agora.

Mas eu preciso da tua loucura saudàvel, da tua criatividade...
Como sou egoista...

Começo a gostar muito de ti...

Ginjinha


Mando-te Florbela Espanca:


Ser Poeta

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Áquem e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!


Florbela Espanca