7 de abril de 2005

Abrílogo

Estas VTIC são uma maravilha. Eu explico: VTIC significa velhas tecnologias de informação e comunicação. E refiro-me em particular à MB (message in a bottle) ou em português MG que se lança ao mar depois de se pensar com alguma intensidade na força e orientação das correntes marítimas e também dos ventos e outras energias. As principais características deste meio de comunicação são a lentidão, a incerteza sobre o destino e o destinatário e a impossibilidade de retorno. E isto faz toda a diferença relativamente a outros meios! Mas não é disso que vou falar.
Hoje o mar devolveu-me uma garrafa com uma mensagem dentro. Quando a abri, reconheci-a e lembrei-me de a ter lido e lançado novamente ao mar, num qualquer Abril. Voltou a mim passado algum tempo. Sei que foi lida e reencaminhada muitas vezes (vinha cheia de FWs acrescentados ao original).
Vou estendê-la aqui a secar.


Há muitos anos, era a liberdade ainda pequena...
Eu também era um menino. E saltava pelas janelas

dos meus cadernos escolares e saía a correr
pelas portas que abria em cada livro.
As viagens que eu fazia!
A liberdade-menina

era uma fotografia na parede do meu quarto
e tinha uns olhos bonitos
que me seguiam.
Às vezes até me escondia e olhava de repente

a ver se ela estava distraída...
Mas nunca a apanhei em falta. Acho que era por gostar de mim...
Era a minha namorada!
Um dia acordei e vi que ela tinha crescido tanto

que já não cabia no meu quarto
e escorria pelas ruas
e dançava com toda a gente
e deixava-se beijar...
Não, nunca tive ciúmes!
Aquela que eu amava quase em silêncio

podia ser amada de todos
à luz do dia!
E vestiram-na de bandeiras
(ela que sempre se quis nua)

e foi momo de carnaval.
Embrulharam-na em editais,decretos e alvarás

e até as finanças lhe quiseram cobrar impostos.
Mas a minha amiga liberdade,

discretamente,
rasgou todos os cartões
e cartas de alforria,
e passou a andar por aí.
Disso tudo,

conservou um cravo no cabelo
que lhe fica tão bem.

Saímos muitas vezes juntos;

fazemos caretas às chatices
e escrevemos na areia da praia
em letras bem grandes o nosso caderno reivindicativo.

Ah! Temos uma coisa íntima
que tomo a liberdade de revelar:
Fazemos amor sempre que nos apetece!

Amamo-nos sempre!

5 comentários:

Anónimo disse...

Eu também abri logo ... e bebi sofregamente assim de golo, tal ressequida terra ...

MarMonta

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

"Il est l'heure de s'enivrer! Pour n'être pas les esclaves martyrisés du Temps, enivrez-vous; enivrez-vous sans cesse! De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise."

Charles Baudelaire

Anónimo disse...

si bô câ crêm, mesm'assim hum crêb ci mé.

Estela Guia

Anónimo disse...

Contador de Gaivotas, queria acrescentar assim mais, sobre a tua linda poesia, que fala da descoberta de liberdade…
Era assim: ainda precisamos de muitos anos para descondicionarmos o nosso pensamento/emoções ou pensamento/ corpo...

Tu sabes? Agora fazemos muitos outros "ditados", copiamos comportamentos, sem ainda sabermos ler e isso passa-se "cá dentro de nós", por já não termos "ouvidos" para escutar o que nos rodeia...
Impõem-nos, muitos aditivos, pressionam-nos e já não conseguimos ter a tranquilidade, para os ecos que nos rodeiam…
Se conseguíssemos ainda copiar, sim, o que expressas, o dispor conchinhas na areia ou ouvir o mar ou quando contas gaivotas no silêncio…
Sabes? O ser humano, aflito, procura para o exterior de si, cada vez mais, aparecem tantos misticismos, mal assimilados, urgentes…

espiral azul