27 de junho de 2005

Todas as praias...

E ainda dizem que morreste!...

Em todos os jardins hei-de florir,
Em todos beberei a lua cheia,
Quando enfim no meu fim eu possuir
Todas as praias onde o mar ondeia.

Um dia serei eu o mar e a areia,
A tudo quanto existe me hei-de unir,
E o meu sangue arrasta em cada veia
Esse abraço que um dia se há-de abrir.

Então receberei no meu desejo
Todo o fogo que habita na floresta
Conhecido por mim como num beijo.

Então serei o ritmo das paisagens,
A secreta abundância dessa festa
Que eu via prometida nas imagens.
Sophia de mello Breyner Andresen

Mas fiquei a saber que apareceste a espalhar um tempo futuro como quem semeia utopias para nascerem no vento. Não sei se é justo servires assim de senha de acesso nacional... a tua voz fica bem melhor tatuada nas cascatas.
E porque também me sinto capaz de florir em todos os jardins.
E beber das fontes sem me saciar nunca.
E abraçar florestas...
Posso ficar a olhar o rio, a saborear o travo de uma Guiness.
O pé bate-se sozinho. Celta-se numa jig ali tocada.
E sem desassossegos grandes... assim - à beira-rio.



O meu amigo Manel perdeu o pai hoje.
A única coisa que sei fazer é dar-lhe um abraço em silêncio.

2 comentários:

  1. Esriome ...
    nas dúvidas idas,
    nas certezas firmadas,
    agora sim,
    valido o inverosímel ...

    Já viajámos de ilhas em ilhas
    Já mordemos fruta ao relento
    Repartindo esperanças e mágoas
    Por tudo o que é vento

    Já ansiámos corpos ausentes
    Como um rio anseia pela foz
    Já fizemos tanto e tão pouco
    Que há-de ser de nós?

    Que há-de ser do mais longo beijo
    Que nos fez trocar de morada
    Dissipar-se-á
    Como tudo em nada?

    Que há-de ser só nós o sabemos
    Pondo o fogo e a chuva na voz
    Repartindo ao vento pedaços
    Que hão-de ser de nós

    Já avivámos brasas molhadas
    No caudal da lágrima vã
    E flutuando a lua nos trouxe
    À luz da manhã

    Reencontrámos lágrima e riso
    Demos tempo ao tempo veloz
    Já fizemos tanto e tão pouco
    Que há-de ser de nós?

    Que há-de ser da mais longa carta
    Que se abriu peito alvoroçado
    Devover-se-á:
    «Endereço errado?»

    Que há-de ser só nós o sabemos
    Pondo fogo e chuva na voz
    Repartindo ao vento pedaços
    Que hão-de ser de nós

    Já enchemos praças e ruas
    Já invocámos dias mais justos
    E as estátuas foram de carne
    E de vidro os bustos

    Já cantámos tantos presságios
    Pondo fogo e chuva na voz
    Já fizemos tanto e tão pouco
    Que há-de ser de nós?


    Que há-de ser da longa batalha
    Que nos fez partir à aventura
    Que será que foi
    Quanto é quanto dura?

    Que há-de ser só nós o sabemos
    Pondo o fogo e a chuva na voz
    Repartindo ao vento pedaços
    Que hão-de ser de nós

    QUE HÁ-DE SER DE NÓS?
    Sérgio Godinho / Ivan Lins

    Bonami

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  2. nas chegadas e partidas
    o ondear do mar traz memórias
    fala de cores sentidas e tocadas
    e torna dizível o eco das almas que se eternizam
    passos dados
    desenhados
    azul dos céus
    imortalizados num campo de flores
    umbicalmente aquoso:
    o mar falador no silêncio de si...
    os ecos também dizem.

    areia

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