Estas VTIC são uma maravilha. Eu explico: VTIC significa velhas tecnologias de informação e comunicação. E refiro-me em particular à MB (message in a bottle) ou em português MG que se lança ao mar depois de se pensar com alguma intensidade na força e orientação das correntes marítimas e também dos ventos e outras energias. As principais características deste meio de comunicação são a lentidão, a incerteza sobre o destino e o destinatário e a impossibilidade de retorno. E isto faz toda a diferença relativamente a outros meios! Mas não é disso que vou falar.
Hoje o mar devolveu-me uma garrafa com uma mensagem dentro. Quando a abri, reconheci-a e lembrei-me de a ter lido e lançado novamente ao mar, num qualquer Abril. Voltou a mim passado algum tempo. Sei que foi lida e reencaminhada muitas vezes (vinha cheia de FWs acrescentados ao original).
Vou estendê-la aqui a secar.
Há muitos anos, era a liberdade ainda pequena...
Eu também era um menino. E saltava pelas janelas
dos meus cadernos escolares e saía a correr
pelas portas que abria em cada livro.
As viagens que eu fazia!
A liberdade-menina
era uma fotografia na parede do meu quarto
e tinha uns olhos bonitos
que me seguiam.
Às vezes até me escondia e olhava de repente
a ver se ela estava distraída...
Mas nunca a apanhei em falta. Acho que era por gostar de mim...
Era a minha namorada!
Um dia acordei e vi que ela tinha crescido tanto
que já não cabia no meu quarto
e escorria pelas ruas
e dançava com toda a gente
e deixava-se beijar...
Não, nunca tive ciúmes!
Aquela que eu amava quase em silêncio
podia ser amada de todos
à luz do dia!
E vestiram-na de bandeiras
(ela que sempre se quis nua)
e foi momo de carnaval.
Embrulharam-na em editais,decretos e alvarás
e até as finanças lhe quiseram cobrar impostos.
Mas a minha amiga liberdade,
discretamente,
rasgou todos os cartões
e cartas de alforria,
e passou a andar por aí.
Disso tudo,
conservou um cravo no cabelo
que lhe fica tão bem.
Saímos muitas vezes juntos;
fazemos caretas às chatices
e escrevemos na areia da praia
em letras bem grandes o nosso caderno reivindicativo.
Ah! Temos uma coisa íntima
que tomo a liberdade de revelar:
Fazemos amor sempre que nos apetece!
Amamo-nos sempre!
Eu também abri logo ... e bebi sofregamente assim de golo, tal ressequida terra ...
ResponderEliminarMarMonta
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ResponderEliminar"Il est l'heure de s'enivrer! Pour n'être pas les esclaves martyrisés du Temps, enivrez-vous; enivrez-vous sans cesse! De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise."
ResponderEliminarCharles Baudelaire
si bô câ crêm, mesm'assim hum crêb ci mé.
ResponderEliminarEstela Guia
Contador de Gaivotas, queria acrescentar assim mais, sobre a tua linda poesia, que fala da descoberta de liberdade…
ResponderEliminarEra assim: ainda precisamos de muitos anos para descondicionarmos o nosso pensamento/emoções ou pensamento/ corpo...
Tu sabes? Agora fazemos muitos outros "ditados", copiamos comportamentos, sem ainda sabermos ler e isso passa-se "cá dentro de nós", por já não termos "ouvidos" para escutar o que nos rodeia...
Impõem-nos, muitos aditivos, pressionam-nos e já não conseguimos ter a tranquilidade, para os ecos que nos rodeiam…
Se conseguíssemos ainda copiar, sim, o que expressas, o dispor conchinhas na areia ou ouvir o mar ou quando contas gaivotas no silêncio…
Sabes? O ser humano, aflito, procura para o exterior de si, cada vez mais, aparecem tantos misticismos, mal assimilados, urgentes…
espiral azul